terça-feira, julho 31, 2007

O Slowliness: início, meio e fim

Faz um tempo que eu queria fazer essa matéria. Eu, que estou acompanhando a banda há uns 2 anos, me senti à vontade para me envolver em tal trabalho, principalmente quando Arvid insistiu para que eu o fizesse.

Arvid, tem confiança imensa em seu trabalho e busca sempre levá-lo à posteridade. As aspirações são as mesmas que motivaram homens comuns a se transformarem em ícones eternos do rock. Recebi dele a história sofrida de sua carreira musical, cheia de empecilhos, e entenda ‘empecilhos’ como ‘falta de grana’, o fator que mais sufoca os músicos e artistas talentosos ao redor do mundo.

Arvid começou a inclinar seus ouvidos para o rock desde os 12 anos. Vizinhos dedilhavam em seus violões diversos clássicos do rock dos anos 70 e 80 e o pequeno Arvid ficava a apreciar o som (os velhos tempos em que a internet não existia e a busca para saber mais sobre o rock era árdua). O avô de Arvid, lhe presenteou com duas inestimáveis dádivas: a introdução ao som de Elvis Presley e claro, uma guitarra. E o jovem garoto já tinhas suas primeiras experiências musicais tocando na igreja.

Dos 16 aos 17 anos, Arvid tocou em bandas punks, grunges, tocando por diversão, ou como ele costuma dizer: “sem compromisso”. Aos 18 anos, finalmente o Slowliness foi criado. Arvid era o único integrante fixo, ou seja, um ‘rodízio’ de músicos acontecia na banda. Foi nessa época que as duas mais belas canções foram criadas: Almost Crazy e If I Thought Somenthing Will Change. Acredito que um desespero batia no peito do jovem compositor ao não disponibilizar da grana para gravar seu EP. Foi nessa época que ele teve que se virar e trabalhar num posto de gasolina, para juntar o dinheiro suficiente para gravar o EP homônimo da banda.

Quando finalmente juntou a verba, um imprevisto: seu irmão mais velho precisava de dinheiro para pagar um carro. Arvid não hesitou e abriu a mão, ficando sem nada e quase sem esperança de gravar o EP. E na época em que trabalhava no posto, encontrou-se com um cara, que estava em seu caminho para a locadora, afim de devolver um filme. Esse cara era Danilo Passos, ou apenas Passos, grande amigo de Arvid e atual baixista da banda. Conversaram ali mesmo e marcaram um ensaio. Passos tocava guitarra e entrou para o Slowliness como o guitarra base.

Os planos da gravação, embora adiados, continuavam em pé. E quando Arvid havia juntado toda a grana novamente, sua mãe, com problemas de saúde precisava ser operada. Logo Arvid desembolsou suas economias novamente. Após essa segunda “cacetada da vida”, Arvid ficou desorientado e dissolveu a banda. E quando estava desiludido, foi chamado para trabalhar o final de ano num supermercado e logo após as datas comemorativas, ele foi efetivado. Aproximadamente um ano após, ele conseguiu juntar o dinheiro. É claro que o Slowliness já havia voltado (passadas as tensões e frustrações). E nessa volta, Arvid achou desnecessárias duas guitarras na banda e Passos, foi ‘sacado’ da banda. E foi nessa época, sem Passos, que o Slowliness gravou seu primeiro EP. Com forte influência do noise americano (leia-se Sonic Youth), o som da banda tinhas pitadas de grunge sujo, mas o ambiente, a atmosfera sonora lhe faz lembrar o Hüsker Dü ou Superchunk. As letras angustiadas eram cantadas por uma voz que lhe faz imaginar o que seria a leveza do timbre de Elvis Presley com a melancolia e sobriedade de Ian Curtis. Sim, características tão conflitantes se juntavam perfeitamente na voz de Arvid. Resumindo: O EP foi gravado, e perfeitamente elaborado e executado.

Após a tão esperada gravação, a banda foi desfalecendo com os conflitos internos. Arvid me confessou que cometeu alguns erros, mas ele não suportava mais os erros dos outros integrantes e também não sentia mais a pegada em seus colegas de banda. Arvid um dia disse: “prefiro que me preguem as mãos ao tocar com eles novamente”. Isso soa a Morrissey.

Passos, enquanto fora da banda, passou a refinar seu gosto musical, que já era bom, ele era muito influenciado por bandas como Smashing Pumpkins, Nirvana, Teenage Fanclub, Jesus and Mary Chain entre outras lendas do rock alternativo. Ao se aprofundar no som do Sonic Youth, passos cogitou a idéia de tocar baixo. E foi a oportunidade ideal para que Passos retornasse ao Slowliness. Passos até sentia uma insegurança ao mudar da guitarra para o baixo, mas aos poucos, foi se familiarizando com o instrumento.

Embora Passos não tenha participado do primeiro trabalho, hoje ele se ajustou à banda, como uma prova de coletividade, ou seja, para um grupo dar certo, indivíduo deve se ajustar a esse grupo e não o inverso.

O novo desafio é o lançamento do EP Dateline, que já está pronto há um bom tempo. O lançamento está marcado para o dia 24 de agosto de 2007 e os amigos e fãs se alimentam de curiosidade em relação ao novo trabalho. Ainda há espaço para o que Arvid e Passos consideram o melhor que o Slowliness já idealizou (sim, já está pronto): o disco All Against Nothing.

Se você nunca ouviu o som deles, ou nunca os viu ao vivo, vale a pena ir, afinal, eles não se limitam a tocar apenas os próprios sons. O Slowliness faz um ótimo cover de Sebadoh ou Guided by Voices. E como sou fã de carteirinha das duas bandas, não posso cometer o pecado de ‘não’ recomendar.

Entrevista com Arvid Lima

RockTown - Seu avô poderia ser considerado peça-chave para sua formação? Como era sua relação com ele?
Arvid - Sim, meu avó me fez ser este homem que sou hoje em dia. Eu acredito que entre meus irmãos e primos, eu estava mais próximo dele. Minha relação com o meu avó sempre foi boa, ele faz muita falta pra mim e pra minha família, mas o que me deixa feliz é saber que ele dorme no braços do Senhor.

RockTown - Qual era a idéia, a intenção por trás da criação do Slowliness?
Arvid - Quando eu formei o Slowliness, tudo era muito novo pra mim, eu era muito novo não era nada demais, eu só queria tocar as minhas músicas. Nada daquelas coisas que querer mudar o mundo (risadas).

RockTown - Como foi o primeiro contato com Passos?
Arvid - Eu trabalhava perto de casa, quando o Passos voltava da locadora. Eu o chamei e começamos a conversa, e eu falei meio rápido sobre minha idéia etrocamos telefone, dias depois estamos no estúdio pra ver como iria sair asmúsicas, e nesta época já tocava Almost Crazy e If I Thought Something Will Change, e outras que sumiram porque eram muito ruins (risadas).

RockTown - Na época, houve algum ressentimento por parte do Passos ao sair da banda por falta de espaço?
Arvid - Eu acredito que não. Eu sempre fui muito verdadeiro com ele e ele comigo, aconteceu um monte de coisas chatas naquele ano, Depois da gravação outras coisas chatas aconteceram, e eu mostrei pro Passos o cd. Ele começou acreditar mais nas música, e eu vi que não podia seguir sem, eu precisava dele eu preciso pra tocar as nossas músicas.

RockTown - Quem são as mulheres que estampam as capas dos EPs "Slowliness" e "Dateline"?
Arvid - Do primeiro EP é minha tia. Ele nasceu na Itália, morou no Vaticano por um tempo, uma pessoa que não cheguei a conhecer. Do Dateline é minha avó, Dona Archangela, mulher abençoada (risos).

RockTown - O que o motivo a dissolver o Slowliness e seguir carreira solo?
Arvid - O Slowliness foi uma parte da minha vida, mas eu não sei o dia e nem a hora, o Passos e eu estamos terminando o que para nós será o melhor EP doSlowliness.

RockTown - Você pretende seguir qual linha de influência nessa nova carreira?
Arvid - Eu não sei exatamente o que será ainda, eu não tenho nada pronto sóescritas. Eu tenho um trabalho a fazer com Slowliness, vamos nos apresentar ao vivo em breve. (n.e.: dia 24/08/07)

RockTown - Sua tendência ao gospel vem dos tempos de quando você tocava na igreja ou vem da fase que Elvis Presley focou mais o estilo?
Arvid - O lance é que tem uma diferença em tocar pra Deus e tocar no ‘mundo’. O importante é você ser verdadeiro no que você faz, e eu tenho vontade de cantar música gospel não por causa do Elvis.

RockTown - Um dia você me disse que faltava alguém para lhe dar uma educação vocal. Você ainda se preocupa? Pensa em aprimorar a voz?
Arvid - Sim, eu sempre quero melhorar. Uma banda boa é aquela que tem um bom vocalista.

RockTown - O fim pode ser considerado uma parada por tempo indeterminado ou realmente é o fim?
Arvid - Infelizmente tudo tem um fim.

nota: o baterista atual da banda é um freelancer, amigo da banda desde 2001. O cara chama-se Ref.

Links da banda:

Slowliness no Trama Virtual

Slowliness no PureVolume



by Felipe Pipoko

sábado, julho 14, 2007

The Donnas no Brasil

As garotas do The Donnas confirmaram presença no Brasil, no dia 25/08. Embora o som delas não seja popular por aqui, acho que uma apresentação apenas, é pouco. Mas, que se lasque, o quarteto punk de garotas tem um som, que em minha opinião, é apenas superado pelo Elastica (que não é integralmente composto por garotas, mas tem apenas um cara). A apresentação vai ser no Clash Club, lá na Barra Funda, e pode ter certeza... vai lotar, afinal, é a primeira vez das garotas por aqui, e embora não sejam populares (acho que já escrevi isso em algum lugar), carregam uma boa legião de fãs. O som delas é muito pesado, mas sem perder aquela doçura da voz feminina. Paredões de guitarra berrante, baixo destacado e bateria intensa, formam todo o ambiente caótico/compreensível do som delas. Se você não conhece, vale a pena se aprofundar. E olha a tebela de preços!

R$ 70 (antecipados, com desconto)
R$ 100 (na porta)
R$ 50 (estudantes) – à venda apenas na London Calling CDs, mediante apresentação de carteirinha original e comprovante de matrícula – apenas um ingresso por carteira

O preço tá salgado, né? Embora eu curta muito o som delas, é show pra fãs, afinal, tá foda alguém pagar 100 pratas na porta... é ou não é?

by Felipe Pipoko

segunda-feira, julho 09, 2007

Björk: A deusa esquimó vem pros trópicos.

Sim, a deusa islandesa vai desembarcar por terras brasileiras para participar do Tim Festival. As datas ainda não estão confirmadas, mas serão informadas em breve quando a TIM e a Dueto (produtora do festival) anunciarem juntas o novo formato do festival. Lá por agosto já saberemos todos os detalhes.
Fazia tempo que a Björk não colava por aqui, ou seja, desde 1998 (9 anos). Fãs estão ansiosos e os amantes do rock e da música bem elaborada, estão em êxtase, tendo em vista o que os aguarda em outubro deste ano, que está quente demais para o rock. Os jovens de hoje estão testemunhando grandes voltas e seus respectivos lançamentos de discos, como Dinosaur Jr., Iggy and the Stooges, Rage Against the Machine, Jesus and Mary Chain entre outros.

Voltando à Björk, o show dela vem apresentando o seu novo trabalho, Volta (2007) que está sendo muito bem aceito pela crítica. O que ela costuma cantar das novas canções, nos shows mais recentes, são as belas “Earth Intruders” e “The Dull Flame of Desire”. Já aproveito pra dizer que o disco dela está muito bem produzido e elaborado, com sons que evocam sons tribais e que traz junto uma pitada pop, mas nada de pop exagerado. Ela continua louca, estranha e encantadora.

Continuo preferindo a vinda de Cat Power, porém vai valer a pena ver Björk em sua apresentação. Podem apostar que sim.
by Felipe Pipoko

segunda-feira, julho 02, 2007

Cold War Kids: Letras e sons geniais

Já faz um tempo que ouço essa banda, mas coloquei uma nota no meu caderno de descobertas musicais: escrever sobre eles apenas quando ouvir o suficiente. Pra mim, o suficiente consiste em ouvir por dois meses, parar por um mês, ouvir novamente por mais um mês, parar de vez e sorrateiramente, colocar umas musiquinhas deles no iPod pra não esquecê-los. De repente, todo esse processo se torna o suficiente pra que eu tenha conhecido bem o som dos caras, ou pelo menos me sinta a vontade pra escrever sobre eles.


Essa banda, esses caras, são o Cold War Kids. Banda formada em Fullerton na Califórnia, é integrada pelo vocalista Nathan Willet, o baixista Matt Maust, o baterista Matt Aveiro e o guitarrista Jonnie Russel. Os caras se juntaram em 2004, mandando demos pra tudo que é canto possível. Lançaram o primeiro EP chamado Mulberry Street e causaram um estouro entre os blogueiros/rockeiros, que acharam neles um som diferente, bem elaborado e complexo em sua variações instrumentais. Tocaram no Loolapalooza em 2006 e assinaram contrato com a Downtown Records. No mesmo ano lançaram o disco Robbers & Cowards que na opinião deste que vos escreve, foi um dos melhores discos do ano, sem sombra de dúvida. Oras, se você procura um disco onde em uma parte, você pode dançar e em outra você pode refletir num dia cinzento de chuva, adote Robbers & Cowards pra te acompanhar nesses momentos. O disco conta com agitadas Hang me up to Dry e a Tell Me in the Morning, contam com baterias marcantes e instáveis, sem contar que as harmonias foram muito bem compostas. Na maioria das músicas, aquela meia-lua (típica do som dos Beatles) se faz presente. A guitarra goza de alguns solos imponentes, como o que você pode escutar no We Use to Vacation (melhor faixa do disco). Fora os solos, a guitarra faz muito bem o seu papel, muito bem encaixada em meio as harmonias. Não há nada de riffs grudentos ou grande complexidade na execução de trechos, a guitarra é simples, limpa e poderosa quando necessário. Já Nathan Willet além de ter uma ótima voz (você ouvindo o disco já imagina a presença de palco), toca muito bem o piano, que cá entre nós, é perfeito em todas as canções, pois dá um ar sombrio na primeira faixa We Use to Vacation, dá as cartas em Hospital Bed e dá o prenúncio do caos em God, Make up Your Mind (lo-fi estilo Cat Power).


O nível das letras é bem superior ao de muitas bandas similares, que embora tenham bom som, não passam de cabeças de vento. Eles não falam sobre guerras, brigas entre ocidente e oriente, russos contra americanos, e muito menos exaltam o comunismo como solução para a vida (muita gente pode pensar nisso ao ler o nome da banda). As letras são inteligentes, mostram a realidade de famílias e pais de família fracassados e arrasados pelo vício, ladrões fúteis, morte, contradições da vida. E quando letras geniais se juntam com um som rasgado, forte e bem elaborado, cheio de rastros de blues? Só pode dar em uma grande banda. Eu realmente espero muito que o novo disco não decepcione, como foi o caso do Bloc Party, que até lançou um bom segundo disco, mostrando novidades (ou novas tendências e objetivos), porém decepcionando a expectativa dos fãs. Longa vida ao Cold War Kids!


by Felipe Pipoko