quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A (Falsa) Melancolia Brasileira

Ouvir Joy Division em plena rua de uma metrópole brasileira não é a mesma coisa que ouvir em Manchester, por exemplo. Por mais que o céu acinzentado se assemelhe a um típico dia inglês, não é a mesma coisa. Por mais que um vento frio, estilo europeu, nos faça tirar aquele casaco do armário, não dá pra comparar. O povo brasileiro é único.

Estava eu ouvindo a manjada, porém perfeita Love Will Tear Us Apart do Joy Division em um ônibus pelas ruas de São Paulo. Por mais que essa música te faça pensar, pensar e desanimar em muitos pensamentos, a melancolia é artificial. Uma das ruas que o ônibus passa, é uma rua sofrida, com dois hospitais públicos e um hospital que trata o câncer de crianças. Cara, se você quer ter motivos pra se deprimir com sua existência, pegue esse ônibus. Cada parada é um caso drástico que se apresenta na entrada do ônibus. Crianças totalmente retardadas, aleijados, cegos e uma infinidade de doenças de pele. Cenas como essa fazem o suicídio de Ian Curtis parecer besteira. Mas é incrível como a melancolia das desgraças da vida parecem não afetar esse povo, que está rindo, se não é uma gargalhada é uma expressão de esperança refletida num pequeno sorriso. Gente que teria tudo pra se enforcar como Curtis fez, mas não o faz, porque seja por convicção religiosa (suicídio é pecado mortal) ou seja pela esperança que nunca morre, esses brasileiros não desistem nunca (porra de frase filha da puta).

Por isso colocando esse assunto numa ótica musical, não vejo o motivo para expressarmos um cunho melancólico em nossos rocks. Claro que pessoas nascem depressivas, isso de fato é a doença do século XXI, mas muito do que se escreve, essa onda emocore que varreu muitos jovens é puro teatro, puro modismo, pura falta-do-que-fazer. A tristeza da vida, os traumas de um passado tenebroso têm que ser repassados em canções, afinal, quem canta os males espanta, mas toda essa orgia depressiva que assombra a sociedade, porra, isso é pura mentira. Pessoas estão escolhendo o nome “depressão” pra intitular seu estado emocional. Pelos deuses, a depressão foi banalizada, foi escolhida como o hype da juventude desse novo século. É ridículo ver tão pouca sinceridade nas letras que se multiplicam a cada dia (parece que existe uma máquina replicadora de músicas exageradamente emotivas), ver tanta gente que termina um namoro de 2 meses e diz que vai cortar pulso. A molecada tá foda, pessoal! Existem dois caminhos para o futuro: boa parte dessa trupe vai crescer e lembrar desses tempos com uma vergonha fodida e a outra parte vai montar banda, criar raízes nesse movimento e viver disso até o dia que notar que é um cabaço, babaca que desperdiçou sua vida num movimento pra lá de furado.

Temos que entrar numa concordância: emo já é algo que não merece nem nossa mais fraca apreensão. Porém a cada dia cresce a valorização pelo sentimento mais profundo e obscuro do ser humano: a tristeza. É bom saber lidar com tudo isso, se situar, afinal, moramos num país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza, sim, em fevereiro tem carnaval caralho! O povo sofre, mas sabe rir. Não fujamos disso.

by Felipe Pipoko

Um comentário:

Anônimo disse...

Na verdade o fato é que esses "movimentinhos" que aparecem, tanto emos quanto indies ou coisa pior são justamente para juntar os iguais. Brasileiro tem costume de desconhecer a realidade, se somos todos parecidos e moramos na Zona Sul fica difícil de encontrar com um pagodeiro miserável e feliz do Jardim Peri. Juntemos nossas mão e cantemos felizes com nosso óculos com filtro de diferenças.
Aliás, vou começar a vender alguns desse tipo.